Por Gabriel Queiroz Em Colunista Atualizada em 13 OUT 2020 - 17H27

Tirando água de pedra

O que essa essa famosa expressão tem a ver com o que estamos vivendo? Tudo!



Uma das coisas que as pessoas mais são obrigadas a fazer na vida é se adaptar a situações inesperadas. Uns tem mais facilidade, outros vão aprendendo na prática, mas no geral, a gente se vira muito bem nessas situações e temos nos mostrado muito resilientes perante o que acontece globalmente.

O Brasil está em quarentena em virtude do COVID-19 e a expressão “tirar água de pedra” nunca fez tanto sentido nos nossos dias. O nosso povo é muito singular, a ponto de não só inventar uma expressão como essa mas também de vivê-la intensamente. Dentro dessa metáfora, a vida, a sociedade e o momento são a pedra e mesmo com tudo isso as pessoas tem conseguido extrair a leveza, a simplicidade e o afeto como a "água" da expressão.

Observem que nas redes sociais, que antes transbordavam vidas perfeitas e superficialidade, começaram a mostrar a fragilidade sem filtros. As pessoas estão expressando seus medos e angústias, interagindo umas com as outras por meio de comentários. Percebendo que existe uma sensação coletiva elas ficam mais à vontade para demonstrarem o que sentem.

As fotos ultra photoshopadas têm dado espaço para fotos em família, em que na maior parte do tempo retratam um momento de divertimento e comunhão como fazer a faxina ou o jantar. A tecnologia se tornou uma das únicas ferramentas que mostram o “lá fora” que na verdade é dentro da rotina do outro. Temos aberto a janela e percebido o quão gostoso é receber um afago do sol pela manhã. O quanto o café informal no trabalho faz falta em uma mesa onde a nossa companhia agora é a solidão.

A sala de estar se tornou um coração de mãe, com crianças fazendo atividades o dia inteiro, que vão desde pintar desenhos, até cabana com meia dúzia de cadeiras e cobertores. Os adultos têm entrado na dança e se esquecido que são gente grande, participando de jogos lúdicos e entrando na onda da imaginação para manter os pequenos bem ocupados. Ou até mesmo para se manter ocupados, colorindo, bordando, jogando online e offline, resgatando paixões antigas como as coleções e a música.

As varandas dos condomínios se tornaram alto falantes, onde as pessoas se comunicam, aplaudem profissionais da saúde, rezam juntas. Um programa, um filme, um artista, o que quer que seja que passe na TV, vira pauta de conversa entre grupos de amigos. As pessoas que antes corriam o dia inteiro de uma ocupação pra outra, foram forçadas a frear bruscamente para dar vazão a uma urgência de agora. Espero que não seja um delírio coletivo temporário, mas parece que a maioria redescobriu o gosto de “ser humano”, mas não humano no sentido duro da palavra, mas sim no sentido antropológico, no sentido empático.

Um mundo que tem se tornado cada vez mais individualista, começou a valorizar a liberdade e aprendeu a conjugar o verbo ‘partilhar’ de maneiras infinitas, mesmo que com ressalvas. Por mais dolorido que seja um momento, alguma lição a gente tira e isso não é um clichê infundado. Existe até um outro ditado que diz “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, fazendo uma ligação deste com o contexto que criamos aqui, vemos que a leveza, o afeto e as relações humanas, são maiores do que qualquer acontecimento pedregosos que possa aparecer.

Juntos a gente tem a capacidade de fazer esse rio correr e essa água sagrada que foi criada pelo coletivo, começa a pulsar nas veias do mundo. Estamos no mesmo barco e temos compreendido isso a duras penas.

Meu desejo hoje é que toda essa tempestade passe, a paz consiga pousar sobre cada coração que hoje está atribulado, mas que todos hábitos bons que criamos neste tempo, continuem a ser vistos no cotidiano como herança aprendida depois de uma tribulação.

Esse momento vai passar, os sorrisos serão mais fáceis, os abraços mais apertados, os momentos mais inesquecíveis e o valor de cada encontro será inestimável!

Escrito por:
Gabriel Lopes
Gabriel Queiroz

Formado em Rádio, TV e Internet, atua como produtor audiovisual na Rede Imaculada de Comunicação. É um entusiasta da cultura e do entretenimento e acredita, assim como São João Paulo II, na força da arte como ferramenta para adentrar os corações.

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