Comportamento

Doar-se a si mesmo em um compromisso ecológico

O jornal O SÃO PAULO, da arquidiocese de São Paulo, tem publicado bimestralmente um caderno especial – Laudato si’ – por uma ecologia integral – com reportagens que partem das preocupações externadas pelo Papa Francisco em sua Encíclica Laudato Si’.

Escrito por MI

25 JUN 2024 - 08H01 (Atualizada em 25 JUN 2024 - 08H32)

“Desejo agradecer, encorajar e manifestar apreço a quantos que, nos mais variados setores da atividade humana, trabalham para garantir a proteção da casa que partilhamos. Uma especial gratidão é devida àqueles que lutam, com vigor, por resolver as dramáticas consequências da degradação ambiental na vida dos mais pobres do mundo”, escreve o Papa Francisco na encíclica Laudato si’ (LS 13).

Na capital paulista, muitos são os que se engajam em zelar pela casa comum, seja pelas mais simples ações individuais, como fazer o descarte de lixo nos locais corretos, seja pela mobilização de outras pessoas para iniciativas como o plantio de árvores em áreas degradadas ou com alta concentração de poluentes no ar; ou, ainda, para mutirões de limpeza nos bairros.

Iniciativas reportadas nesta edição do Caderno Laudato si´ – por uma ecologia integral, como o projeto Varre Vila, surgido em Ermelino Matarazzo, e o plantio de árvores no Parque Linear Tiquatira, ambos na zona Leste de São Paulo, estão em sintonia com uma das preocupações externadas pelo Papa Francisco na referida encíclica: “Muitas vezes, encontra-se uma cidade bela e cheia de espaços verdes e bem cuidados em algumas áreas ‘seguras’, mas não em áreas menos visíveis, onde vivem os descartados da sociedade” (LS 45).

CIDADANIA ECOLÓGICA

O comprometimento de cada pessoa com o meio ambiente, especialmente em uma cidade como São Paulo, com altos índices de poluição e cada vez mais impermeabilizada – não é cena incomum ver árvores sendo derrubadas para a construção de prédios –, não é algo que se alcance pela força da lei, mas a partir de uma ‘cidadania ecológica’, como lembra o Papa na encíclica Laudato si’. É essa a perspectiva da ação Plantio Global, iniciada na Vila Mariana em 2017, também reportada nesta edição.

“Para a norma jurídica produzir efeitos importantes e duradouros, é preciso que a maior parte dos membros da sociedade a tenha acolhido, com base em motivações adequadas, e reaja com uma transformação pessoal. A doação de si mesmo em um compromisso ecológico só é possível a partir do cultivo de virtudes sólidas (…) É muito nobre assumir o dever de cuidar da criação com pequenas ações diárias, e é maravilhoso que a educação seja capaz de motivar para elas até dar forma a um estilo de vida. A educação na responsabilidade ambiental pode incentivar vários comportamentos que têm incidência direta e importante no cuidado do meio ambiente, tais como evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias” (LS 211).

A FORÇA DE UMA ÁRVORE

“Tentamos proteger a árvore, esquecidos de que é ela que nos protege”, escreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade em “O Avesso das Coisas” (1987).

A verdade deste verso é facilmente comprovada pela lista de consequências benéficas que o plantio e a correta manutenção das árvores podem proporcionar, conforme se lê na 3ª edição do Manual Técnico de Arborização Urbana, publicado pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA):

Aumento da permeabilidade do solo;

Controle da temperatura e da umidade do ar;

Interceptação da água da chuva, ajudando a reduzir a ocorrência de enchentes;

Mais áreas com sombras, com a consequente redução do desgaste dos pavimentos, uma vez que ficam menos expostos diretamente ao sol;

Filtragem dos raios solares, diminuindo os efeitos da fotoexposição humana, cujo excesso pode causar doenças de pele e de visão;

Obstrução, direcionamento e filtragem do fluxo de vento;

Absorção de ruídos e da alta luminosidade;

Atuação como corredor ecológico, permitindo a conexão entre as populações de fauna de fragmentos maiores;

Enriquecimento do ecossistema, com o aumento da biodiversidade;

Diminuição da poluição do ar, uma vez que as folhas das árvores retêm as partículas aéreas, muito comuns em cidades com grande tráfego de veículos;

Armazenamento de carbono, pois pelo processo de fotossíntese as árvores capturam o gás carbônico da atmosfera e o utilizam na formação de suas estruturas vegetativas;

Promoção de bem-estar psicológico.

O AMBIENTE MUDA, A COMUNIDADE SE ENRAÍZA

Andressa Freitas de Lima Rhein, diretora da Divisão Técnica de Arborização Urbana da SVMA, departamento responsável pelo plantio de mudas na cidade, falou ao O SÃO PAULO sobre os benefícios proporcionados à saúde física e mental quando há mais ambientes arborizados, especialmente se as pessoas colaboram com o plantio e cuidado das árvores.

“Arborizar uma área gera uma sensação completamente diferente para quem vai caminhar em um local que antes não tinha árvores, e isso não só pelo aspecto visual. Quando acontecem as ações de plantio em comunidades em que quase não há espaço disponível, mas conseguimos encontrar algum, nós vemos que a comunidade passa a se integrar, a se apropriar daquele local de uma maneira muito significativa, modificando espaços que antes eram usados, por exemplo, para descarte de lixo e de entulho. Nós percebemos a sensação de bem-estar e de contentamento da população em relação a um espaço que antes não era visto com muita importância; e há maior interesse das pessoas pelas árvores e por outras ações de cuidado com o meio ambiente”, relatou Andressa.

Doar-se a si mesmo em prol de uma causa ecológica no território em que se vive também ajuda a fortalecer os vínculos com este local, como lembra o Papa Francisco: “É preciso cuidar dos espaços comuns, dos marcos visuais e das estruturas urbanas que melhoram o nosso sentido de pertença, a nossa sensação de enraizamento, o nosso sentimento de ‘estar em casa’ dentro da cidade que nos envolve e une” (LS 151).

Fonte: Jornal O São Paulo

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