De um turbilhão de projetos e atividades, a vida teve um ritmo diferente durante a pandemia. Seja no período de isolamento, quarentena ou na retomada das atividades, o ritmo da vida mudou um pouco.
Talvez até bastante, com desconfortos e sofrimentos. A vida de um jovem, por exemplo, marcada por estudo, trabalho e lazer, foi de certa forma compactada para que essas atividades se desenvolvessem dentro de casa. Uma pessoa idosa, como outro exemplo, teve que se adaptar para ir ao mercado, à igreja e para encontrar a família.
Em nossas paróquias e comunidades, vemos pessoas, inclusive idosas, que literalmente “faça sol ou faça chuva” participam das Missas; e a vida é assim, com muito sol ou com chuva, o trabalho, o estudo, os relacionamentos seguem. Talvez o lazer seja o mais alterado quando chove, mas, mesmo no friozinho do meio do ano, as quermesses e festas juninas reúnem muitas pessoas.
Mas nesse ano não está sendo assim. “Faça sou ou faça chuva”, fomos impactados por medidas restritivas.
Quando um verão é mais chuvoso ou um inverno mais seco, a gente costuma dizer: “esse ano está mudado”; 2020 é um ano “mudado” por algo que a gente nem vê e, em geral, nem sabemos direito como é, um vírus.
Anos atrás, conheci uma moça do Rio Grande do Sul que quando era menina passou por uma grande enchente na cidade dela. Certa manhã, durante a recuperação da cidade, a mãe pediu para ela ir ao banco pagar uma conta, colocar uma carta no correio e trazer carne do açougue. Ela simplesmente desconhecia sua cidade. O banco não atendia mais todos os dias, o correio tinha mudado para a escola e o açougueiro estava atendendo na casa dele. O cenário da pandemia não desconfigurou nossas cidades assim, mas mexeu muito com a gente de forma semelhante.
E a gente fica cheio de questionamentos para reorganizar a vida. Vai abrir escola? Vão primeiro as crianças menores ou os adolescentes? Vai poder entrar normal no banco? O mercado ainda tem horário para idosos? Está funcionando de forma reduzida? O nosso cotidiano é tão prático, a gente faz as coisas todas com habilidade, mas, de fato, esse ano está diferente.
A vida veio a conta gotas. Cada dia um dia. Ouvir as notícias, rezar, conviver, tudo se tornou diferente e vivemos um dia de cada vez, na ânsia da brevidade do fim. Diversas pessoas publicavam na redes sociais algo diferente a cada dia e sempre contando os dias. Em geral, a gente não se dá conta de quando passa trinta ou quarenta dias. No fim do ano, a gente ainda diz que o ano passou voando. Mas esse ano é, de fato, diferente.
O Cardeal Francisco Van Thuan passou por uma quarentena de 13 anos, podemos dizer. Em 1975, foi nomeado Arcebispo Coadjuntor de Saigon, capital do Vietnã, mas o regime totalitário da época considerou essa nomeação uma afronta porque ele era da família do presidente anterior do país e o prendeu.
Van Thuan passou nove anos solitário, sem ver ninguém. No seu livro Caminhos de esperança, publicado no Brasil pela editora Cidade Nova, ele conta como estes anos difíceis foram de certa forma luminosos. Mesmo preso, se sentia livre interiormente. Marcou-me a narrativa das suas missas celebradas escondido colocando na palma da mão migalhas de pão e duas gotas de vinho. Ele conta que se sentia feliz e livre por poder celebrar a Eucaristia em latim, vietnamita ou francês.
O Cardeal Van Thuan descobriu um segredo revelado por Deus e que deu força para os anos de prisão. “Viver cada dia como se fosse o primeiro, o último e o único, preenchendo-o de amor”, dizia Van Thuan.
Que nós que passamos por uma de viver os dias a conta gotas possamos preencher de amor nossos dias, os difíceis sobretudo, para dar um sentido novo à nossa vida.
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