Festas juninas
Por Claudia Varotti Em Cultura Atualizada em 19 OUT 2020 - 09H25

Festas juninas

A riqueza das tradições




Quando vivemos distante de nosso país, nos tornamos mais românticos ao se referir as nossas tradições, as comidas, clima, relacionamentos, a saudades fala alto. 

Entre todas as ausências, uma me faz muita falta, as festas juninas. Pode parecer estranho, saudades de um monte de gente, gritando, vestidos de roupas coloridas e deselegantes, com pinturas faciais que podem ser consideradas estranhas, com cabelos decoradas em fitas para as mulheres e homens com chapéus que nada os torna sofisticados. E o que dizer das comidas, claramente provenientes de tempos de privações onde se usava os ingredientes disponíveis em suas terras e quintais.

Exatamente por isso e por saber da origem de todos esses detalhes que me faz tanta falta essas festas.

A origem das festas juninas está na mudança das estações do ano, no mês de junho inicia-se no hemisfério norte o verão, tempo de calor, luz do sol, flores, árvores e natureza em plena ação. Fazia todo sentido celebrar essa época e agradecer pelo fim do inverno, tempo de frio, pouca luz e muito vento. Para nós no Brasil, celebrar essa época é um pouco estranho, pois é inverno, mesmo para o brando inverno brasileiro observamos uma diferença entre as estações do ano. Entretanto meu amigo leitor, imagine-se vivendo em um país onde a partir de outubro, as quatro horas da tarde não temos mais luz, a velocidade do vento pode chegar a aproximadamente 75 km por hora, e com neve, muita neve...

A neve para nós brasileiros é um item decorativo, quase mágico, onde pensamos naqueles vilarejos branquinhos, com um floquinho de algodão caindo, leve, suave... Sinto lhes desanimar, mas a neve não tem nada de romântica. Em primeiro lugar, quando ocorre é por que está frio, por volta de zero grau, no momento em que ela cai, realmente é bonita, mas algumas horas depois, duas coisas podem acontecer, se o frio for muito intenso ela congela. Aí dirigir ou caminhar se torna atividade de alto risco. Se o frio der uma diminuída e chegar por volta de cinco graus, a neve derrete e tudo vira um lamaçal, uma mistura de terra, poeira das ruas e água suja, que vai grudar no seu sapato, te fazer escorregar e cair ou, vai formar uma camada horrível de algo parecido com lama grudada no seu pneu e fica difícil dirigir.

Esse pensamento se junta a justificativa das festas juninas, nada mais lógico que chegando o verão as pessoas saíssem de seus abrigos para comemorar a possibilidade de alimentar-se com frutas, legumes e verduras frescas, andavam sem dificuldades, e principalmente a luz do sol voltava a brilhar. Essas festas vão ser a origem básica das nossas festas juninas a comemoração da chegada do verão, as primeiras comunidades cristãs vão se utilizar dessa base pagã e direcionar as festividades para três importantes santos católicos, Santo Antônio, São João e São Pedro.

Esses três santos não necessitam de apresentações. São três grandes marcos da história da nossa fé e da construção da cultura católica como a conhecemos hoje. São Pedro, o primeiro Papa, anunciado pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo; João Batista que ainda no ventre de sua mãe reconhece o Salvador que está por vir; e Santo Antônio, doutor da Igreja e evangelizador incansável.

Esses três grandes homens formam um grupo muito seleto de iniciativas e orientações no caminhar da nossa fé, nada mais justo que se tornarem homenageados nas festas de verão, que no início se chamavam festas joaninas em Portugal, quando da chegada dos portugueses ao Brasil, com a consolidação da cristianização da colônia portuguesa e a agregação de elementos variados dos povos e costumes daqueles que fizeram do Brasil seu lar, tudo virou uma grande combinação de cores, aromas, sabores, herdamos dos portugueses as cores vivas e o formato da festa, com as roupas e barracas, as comidas uma mistura de receitas portuguesas com alimentos que estavam a disposição no Brasil colonial, grande parte utilizada pelos nativos da terra, a caracterização do “caipira” tem sua origem na estrutura social brasileira até o início do século XX, onde grande parte da sociedade vivia da agricultura.

Um detalhe muito bonito da festa é a fogueira, ela surge da tradição católica, onde ao nascer São João Batista, Santa Isabel fez uma fogueira para avisar Nossa Senhora do nascimento de seu filho, aquele que vai ser o anunciador do Salvador do Mundo, Nosso Senhor Jesus Cristo.

As festas juninas, ao meu olhar, é a festa que mais identifica o brasileiro, onde a religiosidade se expressa em todos os níveis, com cantigas, orações, tradições, suas brincadeiras, enfeites, tudo pode ser relacionado a formação cultural do Brasil, onde todos aqueles que formaram o nosso país, imigrantes, nativos, colonizadores e colonizados deram uma parte de sua identidade o qual foi colocado em um caldeirão e cozido com os elementos da terra, apresentados em um grande evento, colorido, sorridente, aromático e saboroso.

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