Por Jorge Lorente Em Evangelho Dominical

4º Domingo da Quaresma

“Sei apenas isto: eu era cego e agora vejo!” (Jo 9, 1-41)



Jesus estava passando e viu um homem que era cego de nascença. Os discípulos perguntaram-lhe: “Mestre, quem foi que pecou, ele ou seus pais, para ele nascer cego?” Jesus respondeu: “Ninguém pecou, nem ele nem seus pais, mas é para que as obras de Deus se manifestem nele. (...) Jesus cuspiu no chão, fez um pouco de lama com a saliva, passou nos olhos do cego e disse: ”Vai lavar-te na piscina de Siloé”. O cego foi, lavou-se e voltou vendo. (...) Perguntaram-lhe: “Como se abriram os teus olhos?” Ele respondeu: “O homem chamado Jesus fez um pouco de lama, passou nos meus olhos e disse: ‘vai a Siloé lavar-te’. Fui, lavei-me e recuperei a vista”. (...) Se este homem não fosse de Deus, não poderia fazer nada”. Eles disseram: “Tu nasceste em pecado e nos queres ensinar?” E o expulsaram. Jesus soube que o haviam expulsado e, quando o encontrou, perguntou-lhe: “Crês no Filho do homem?” “Quem é ele, Senhor, para que eu creia nele?” – respondeu. Jesus lhe disse: “Tu o estás vendo: é aquele que fala contigo”. “Creio, Senhor”, disse ele, e prostrou-se diante de Jesus. E Jesus disse: “Eu vim a este mundo para fazer uma separação: a fim de que os cegos vejam, e os que vêem se tornem cegos”. Alguns dos fariseus presentes ouviram isto e perguntaram: “Por acaso também nós somos cegos?” “Se fôsseis cegos – disse-lhes Jesus – não teríeis pecado; mas como dizeis: ‘vemos’, o vosso pecado permanece”.

COMENTÁRIO

Estamos no quarto Domingo da quaresma. Continuamos confiantes nossa caminhada, preparando-nos para a Páscoa da Ressurreição do Senhor. No evangelho de hoje, João relata um milagre de Jesus.

Trata-se da cura de um cego de nascença. É um texto longo e muito rico de conteúdo. Nele Jesus se revela como Luz do mundo. E mostra também que os sofrimentos e as desgraças desta vida não são castigos de Deus.

Deus é Pai, é Amor e Perdão, não castiga ninguém, somente ama. Ama sobretudo aqueles que erram. A misericórdia de Deus é muito maior que os nossos pecados. Os discípulos de Jesus querem saber o porquê da cegueira. Que pecado ele ou seus pais cometeram para que fosse acometido de tamanha desgraça?

A ideia religiosa dominante naquele tempo era de que os sofrimentos, a doença e a pobreza eram castigos de Deus. Jesus corrige essa maneira de pensar que não deixava as pessoas enxergarem a realidade opressora em que viviam.

Culpar a Deus pelas desgraças e dissabores aumenta o sofrimento, impede a libertação, além de inocentar os opressores e donos do poder. A missão de Jesus e nossa como seus seguidores, é apresentar ao mundo o Projeto de Deus, que nos criou para sermos livres, felizes e construtores da nossa própria história.

As duras discussões dos fariseus com o antigo cego e, depois, com Jesus, mostram que o apego ao poder e o abuso de autoridade causam cegueira e fechamento do espírito. Como os poderosos não querem enxergar a verdade, Jesus os adverte dizendo que eles permanecerão no seu pecado.

É importante ressaltar que o cego curado, agora já restituído à sua dignidade como pessoa, discute com os fariseus em pé de igualdade. De forma bastante clara, aquele que era cego, deixa transparecer a sua fé e passa a dizer verdades duras que são recebidas como verdadeiras ofensas pelos fariseus.

Quando se tem culpa no “cartório”, estas palavras não são muito agradáveis: “Eu era cego e agora vejo... Deus não ouve os pecadores... Esse homem é um profeta”. A ousadia do cego ao contestar a sabedoria dos fariseus, e proclamar sua fé, custou-lhe a expulsão da sinagoga pelos donos do poder.

Realmente, fé é algo que não combina com autoritarismo e apego ao poder. Mesmo que isso lhe custe a própria vida, o verdadeiro cristão precisa proclamar a humildade e gritar bem alto a sua fé em Jesus, a Verdadeira Luz, que retira das trevas, que devolve ao cego a luz dos olhos e dá ao mundo a luz da fé.

Vamos encerrar nossa meditação com esta singela oração: “Aumenta Senhor a minha fé e abre meus olhos para o amor, para a justiça e para a fraternidade. Guia meus passos e me dê coragem para enfrentar os opressores”.

Com a fé daquele cego, certamente, nós vamos mudar. E, quando nos perguntarem o porquê dessa mudança, com muita convicção diremos: “Eu era cego e agora vejo!”

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Por Jorge Lorente, em Evangelho Dominical

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