Jesus caminha incógnito pela Galileia rumo a Jerusalém. Isso lhe possibilita instruir seus discípulos anunciando-lhes sua morte e ressurreição. Essa revelação soa estranha à lógica cotidiana e quebra a trama habitual da experiência construída na base dos desejos e previsões humanas, de tal modo que os discípulos são tomados de medo, demonstrando, mais uma vez, a incapacidade de compreenderem o destino do Messias sofredor já manifestada, anteriormente, pela reação negativa de Pedro (cf. Mc 8,31-32).
O substrato do ensinamento de Jesus aos discípulos, no caminho para Jerusalém, é a lógica da Cruz que opera uma reviravolta de valores e adquire toda sua seriedade no acontecimento histórico da paixão no qual Jesus, o Primeiro, se torna o último e o servo de todos.
Os discípulos, porém, na contramão da instrução do Mestre, discutiam quem deles ocuparia o lugar de precedência. O caminho para Jerusalém conduz ao lugar da revelação messiânica. Mas, por sua falta de entendimento, os discípulos a concebem de maneira diferente do que realmente será.
Por isso, quando Jesus pergunta sobre o que discutiam pelo caminho, ficam calados como uma tumba porque estavam disputando quem deles seria o maior (cf, Mc 9,34). A resposta de Jesus afirmando que maior é quem serve a todos põe fim à discussão porque introduz outra hierarquia de valores que erradica qualquer pretensão de precedências (cf, Mc 9,35).
Com efeito, a criança carinhosamente tomada nos braços e colocada no meio dos doze é a visualização concreta do pronunciamento de Jesus. Pois, na sociedade judaica antiga, a criança era desprestigiada.
Segundo o Antigo Testamento, a criança é travessa e imprudente, necessitando de severa correção divina e humana (cf. Is 3,4; Sb 12,24; 2Rs 2,23-24). O rabi Yohanan afirmava que “desde os dias em que o Templo foi destruído, a sabedoria foi tirada aos profetas e entregue aos loucos e às crianças”.
O abraço de Jesus à criança significa, portanto, a postura que se deve tomar na comunidade cristã em relação aos pequenos e pouco considerados na própria comunidade e na sociedade em geral.
Em suma, o evangelista recorda que o significado fundamental da instrução de Jesus, naquele momento aos doze, mas, deste então, válido para toda comunidade cristã, é tão evidente que é impossível não reconhecê-la: a verdadeira grandeza se mede pela disposição a servir, à semelhança do Filho do Homem que não veio para ser servido, mas para servir e dar sua Vida (cf. Mc 10,45).
Boleto
Reportar erro!
Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:
Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.