Evangelho segundo Lucas 1,39-56
A celebração da Assunção de Nossa Senhora ao Céu é inteiramente impregnada de alegria pascal. Com efeito, Maria é a primícia da humanidade nova, a criatura em que o mistério de Cristo – encarnação, morte, ressurreição e ascensão ao Céu – já teve o seu pleno efeito, resgatando-a da morte e levando-a de corpo e alma ao reino da vida imortal. Por isso a Virgem Maria constitui para nós um sinal de esperança segura e de consolação.
São Germano, Bispo de Constantinopla no século VIII, na festa da Assunção, rezou à Mãe de Deus com estas palavras: “Tu és Aquela que, por meio da tua carne imaculada, uniste a Cristo o povo cristão... Como toda a pessoa sedenta corre à fonte, assim também toda a alma corre a Ti, manancial de amor, e como todo o homem aspira a viver, a ver a luz que não conhece ocaso, assim também cada cristão aspira a entrar na luz da Santíssima Trindade, onde Tu já entraste”. São esses certamente os sentimentos que experimentamos na liturgia de hoje, ao contemplarmos Maria na glória de Deus. Quando Ela adormeceu para este mundo, despertando no céu, na realidade simplesmente seguiu, pela última vez, o Filho Jesus na sua viagem mais longa e decisiva, na sua passagem “deste mundo para o Pai” (Jo 13,1).
Como Ele, juntamente com Ele, Maria partiu deste mundo, voltando “para a casa do Pai” (cf. Jo 14,2). A nova Eva seguiu o novo Adão no sofrimento, na Paixão e, deste modo, também na alegria definitiva. Cristo é a primícia, mas a sua carne ressuscitada é inseparável da carne da sua Mãe terrena, Maria, e nela toda a humanidade está envolvida na Assunção a Deus, e com Ela toda a criação, cujos gemidos e sofrimentos são como diz São Paulo as dores do parto da nova humanidade. Nascem assim os novos céus e a nova terra, onde já não haverá pranto, nem lamentações, porque não haverá mais morte (cf. Ap 21,1-4).
Como é grandioso o mistério de amor que hoje se repropõe à nossa contemplação! Cristo venceu a morte com a onipotência do seu amor. Só o amor é onipotente. Este amor impeliu Cristo a morrer por nós e assim a vencer a morte. Sim, unicamente o amor faz entrar no reino da vida! E Maria entrou após o Filho, associada à sua glória, depois que foi associada à sua paixão. Entrou com um ímpeto irrefreável, conservando depois de si mesma o caminho aberto para todos nós. É por isso que, no dia de hoje, a invocamos como “Porta do céu”, “Rainha dos anjos” e “Refúgio dos pecadores”. Sem dúvida, não são os raciocínios que nos fazem compreender estas realidades tão sublimes, mas sim a fé simples, pura, e o silêncio da oração que nos põe em contato com o Mistério que nos ultrapassa infinitamente. A oração ajuda-nos a falar com Deus e a sentir como o Senhor fala ao nosso coração.
Peçamos a Maria que nos conceda hoje o dom da sua fé, a fé que nos faça viver já nesta dimensão entre o finito e o infinito, a fé que transforma também o sentimento do tempo e do transcorrer da nossa existência, aquela fé na qual sentimos intimamente que a nossa vida não se encontra encerrada no passado, mas orientada para o futuro, para Deus, aonde Cristo e, depois dele, Maria nos precederam.
Contemplando a Assunção de Nossa Senhora ao céu, compreendemos melhor que a nossa vida de todos os dias, não obstante seja marcada por provações e dificuldades, corre como um rio rumo ao oceano divino, para a plenitude da alegria e da paz. Entendemos que o nosso morrer não é o fim, mas o ingresso na vida que não conhece a morte. O nosso crepúsculo no horizonte deste mundo é um ressurgir na aurora do mundo novo, do dia eterno.
Enquanto vivemos em meio a tantas angústias pelos sofrimentos que a vida nos impõe: desemprego, desentendimentos na família, morte de entes queridos, violência urbana e doméstica, polarização política, incertezas sobre o futuro..., temos de aprender de Maria a nos mantermos sempre orientados para Deus, tornando-nos, assim, sinais de esperança e de consolação e anunciarmos com a nossa vida a Ressurreição de Cristo.
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