Por Frei Aloísio de Oliveira, Provincial da Província São Francisco de Assis, dos Frades Menores Conventuais
Hoje, em todo o mundo católico, multidões sairiam às ruas em procissão, com ramos nas mãos, recordando a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém se não fosse pela quarentena. Não se trata apenas de seguir uma antiga tradição piedosa, mas de celebrar uma realidade que toca profundamente a nossa vida. De fato, depois da profissão de fé que Pedro fez em Cesareia de Filipe, no extremo norte da Terra Santa, Jesus dirigiu-se como peregrino ao Templo de Jerusalém para participar, com toda a comunidade de Israel, da Festa da Páscoa, memorial da libertação do Egito e sinal da esperança na libertação definitiva.
Que o Domingo de Ramos possa ser para nós o dia da decisão de acolher o Senhor e segui-lo até ao fim, a decisão de fazer da sua Páscoa de morte e ressurreição o sentido da nossa vida de cristãos
Jesus sabia que ali haveria de se realizar uma Páscoa nova, na qual Ele mesmo substituiria os cordeiros imolados, oferecendo-se a si mesmo na Cruz. Sabia que, nos dons misteriosos do pão e do vinho, Ele se daria para sempre aos Seus, abrindo-lhes a porta para um novo caminho de libertação, para a comunhão com o Deus vivo.
Assim, a procissão do Domingo de Ramos é imagem de algo muito profundo, imagem do fato que nos encaminhamos em peregrinação, juntamente com Jesus, pelo caminho em que Ele renovará o dom maior que se possa imaginar: dar-nos-á a Sua vida, o Seu corpo e o Seu sangue, o Seu amor. Mas um dom assim tão grande exige que o retribuamos adequadamente, ou seja, com o dom de nós mesmos, do nosso tempo, da nossa oração, do nosso viver em profunda comunhão de amor com Cristo que sofre, morre e ressuscita por nós.
““Em vez de mantos ou ramos sem vida, em vez de arbustos que alegram o olhar por pouco tempo, mas depressa murcham, prostremo-nos nós mesmos aos pés de Cristo, revestidos da sua graça, ou melhor, revestidos dele mesmo; sejamos como mantos estendidos a seus pés, para oferecermos ao vencedor da morte não mais ramos de palmeira, mas os troféus da sua vitória. Agitando os ramos espirituais da alma, aclamemo-lo todos os dias, juntamente com as crianças, dizendo estas santas palavras: “Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel””
Santo André, Bispo de Creta
Os antigos Padres da Igreja viram um símbolo de tudo isso num gesto das pessoas que acompanhavam Jesus na sua entrada em Jerusalém: o gesto de estender os mantos diante do Senhor. O que devemos estender diante de Cristo – diziam os Padres - é a nossa vida, ou seja, a nós mesmos, em sinal de gratidão e adoração. Com efeito, Santo André, Bispo de Creta, um desses antigos Padres, afirmava: “Em vez de mantos ou ramos sem vida, em vez de arbustos que alegram o olhar por pouco tempo, mas depressa murcham, prostremo-nos nós mesmos aos pés de Cristo, revestidos da sua graça, ou melhor, revestidos dele mesmo; sejamos como mantos estendidos a seus pés, para oferecermos ao vencedor da morte não mais ramos de palmeira, mas os troféus da sua vitória. Agitando os ramos espirituais da alma, aclamemo-lo todos os dias, juntamente com as crianças, dizendo estas santas palavras: “Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel”.Leia MaisDomingo de Ramos deve ser celebrado de modo especial Semana Santa de "lives"Regra de ouro: Sede santos como o Pai é santo!
Que o Domingo de Ramos, em que meditamos Mt 26,14 - 27,66, possa ser para nós o dia da decisão de acolher o Senhor e segui-lo até ao fim, a decisão de fazer da sua Páscoa de morte e ressurreição o sentido da nossa vida de cristãos. Sirva-nos de exemplo Santa Clara de Assis, que, exatamente num Domingo de Ramos, há mais de 800 anos, movida pelo exemplo de São Francisco e dos seus primeiros companheiros, deixou a casa dos pais para consagrar-se totalmente ao Senhor: com apenas dezoito anos de idade, teve a coragem da fé e do amor para se decidir por Cristo, encontrando nele a razão da sua vida.
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