Por Frei Aloísio Oliveira Em Lendo o Evangelho

Por que Maria vai visitar Isabel?

Capella Redemptoris Mater
Capella Redemptoris Mater


É a pergunta que a própria Isabel se faz: “Como é possível que a mãe do meu Senhor venha a mim?” (Lc 1,43). No anúncio, o Anjo Gabriel havia comunicado a Maria a maternidade prodigiosa de Isabel como parte da intervenção extraordinária de Deus na história (cf. Lc 1,36-37).

Maria, portanto, vai à casa de Isabel para contemplar com ela a poderosa ação salvadora que Deus está realizando através delas duas. Na vida delas, tão simples e insignificante, Deus decidiu realizar “maravilhas” em benefício de todo o povo (cf. Lc 1,46-55).

Ao ouvir a saudação de Maria, Isabel percebeu que seu filho se mexeu no ventre e ela não tem dúvida de que se trata de uma manifestação de alegria (cf. Lc 1,44). Movida pelo Espírito Santo, Isabel exclama que Maria é bendita entre as mulheres, porque acreditou na palavra do Senhor transmitida pelo Anjo e acolheu o chamado para ser a mãe do Messias.

Sem ter estado presente à anunciação, Isabel reconhece, pela fé, a atuação salvadora de Deus na maternidade de Maria. Ela é a mais bem-aventurada de todas as mulheres por causa do filho que está gerando: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre” (Lc 1, 42b).

O encontro das duas mães contém uma indicação fundamental da espiritualidade bíblica: a atuação salvadora de Deus sempre passa pelo coração das pessoas, mas nunca se limita a um relacionamento exclusivamente individual com Ele.

Ao contrário, é comprovada e aprofundada nas relações interpessoais, nos encontros e nas situações humanas. De fato, no encontro com Isabel, Maria aprofunda o entendimento da sua missão de mãe do Messias, anunciada pelo Anjo. Neste sentido, a visita a Isabel não pode ser separada do Magnificat.

É nesse encontro que Maria proclama o cântico de louvor ao Deus Salvador que sempre agiu na história de Israel, realizando maravilhas. O mesmo Senhor que outrora libertou prodigiosamente o seu povo da escravidão do Egito e o conduziu pelo deserto, agora, está agindo na vida dela e de Isabel, gerando nelas o precursor e o próprio o Messias que vem para realizar a libertação definitiva de toda a humanidade.

O agir perene de Deus cantado no Magnificat é resultante da sua misericórdia, a qual inclui dois aspectos fundamentais: a fidelidade incondicional de Deus ao pacto da Aliança, que se mantém inabalável mesmo diante da infidelidade de Israel, e a inversão da lógica humana que a intervenção divina representa.

Com efeito, quando Deus entra em ação a ordem constituída é revirada: os soberbos são dispersos e confundidos, os poderosos são exonerados e os humildes são exaltados, os famintos são saciados e os ricos ficam sem nada (cf. Lc 1,51-53), em outras palavras, os últimos se tornam primeiros e os primeiros, últimos (cf. Lc 13,30).

Enfim, o cântico de Maria é a experiência da pessoa de fé que sabe discernir a ação de Deus nos acontecimentos da vida, e isso preenche a alma da esperança que não decepciona: “A minha alma engrandece o Senhor e meu espírito exulta em Deus, meu salvador”.

Escrito por
Frei Aloísio, Ministro Provincial
Frei Aloísio Oliveira

É Ministro Provincial da Província São Francisco de Assis dos Frades Menores Conventuais e especialista em Sagrada Escritura.

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