O dia dos pais, que celebramos neste mês, me fez voltar à minha juventude, quando eu e alguns amigos fundamos um grupo teatral amador e fazíamos nossas apresentações num velho galpão gentilmente cedido por um casal de idosos.
As atrações eram das mais variadas. Além das peças teatrais, tínhamos cantores, músicos e até roda de samba. Eu havia estudado o curso primário e ginásio (títulos que não se usam mais) no Externato São Vicente de Paulo e no Ginásio Virgem Poderosa, das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Por isso, os amigos achavam que eu poderia escrever uma peça de caráter religioso. Confesso que fiquei totalmente perdido e me sentindo incapaz de fazer isso, até que, diante da insistência, criei coragem e comecei a escrever.
Hoje decidi rebuscar na minha memória e trazer, do fundo do baú, trechos da minha singela peça representada por apenas três personagens. Um pai e seus dois filhos. Vou tentar recuperar algumas cenas e suas palavras.
Começa assim: Pai e filho mais velho conversam animadamente, quando entra em cena o filho mais novo (cujo personagem era eu) e, de maneira áspera, anuncia que quer receber a parte da herança que lhe cabe, pois pretende sair de casa e conhecer a felicidade que o mundo oferece.
O irmão mais velho toma a frente e o recrimina dizendo: “Procurar o que, se aqui você tem tudo o que precisa? De jeito nenhum permitiremos a sua saída. Não é pai?”. O pai, então, toma a palavra: “O meu prazer, meu desejo, seria ter você sempre aqui, bem pertinho de nós, meu filho, no entanto, você tem todo o direito de fazer o que lhe convém. Eu lhe dou total liberdade para decidir. Isso se chama livre arbítrio. Se é esse seu desejo, não vou prendê-lo aqui. Vamos promover a partilha agora”.
Diante do olhar triste do pai e raivosos do irmão, o jovem pega o que é seu, nem se despede, vira as costas e sai de cena. Um narrador conta as loucas aventuras vividas por esse jovem, enquanto seu pai caminha sem cessar, daqui para lá, e de lá para cá, até uma colina próxima, de onde ele podia ver a estradinha por onde ele tinha a esperança de ver seu filho retornando ao lar.
Tempos depois, quando mais nada lhe restava, quando não podia, nem mesmo alimentar-se com a comida dos porcos, convencido do seu erro, o jovem decidiu voltar para pedir perdão e esperava, pelo menos, ser aceito como um empregado de seu pai.
Agora, todo sujo e malcheiroso, o rapaz levantou-se e caminha em direção à casa do pai. Quando ainda estava longe, seu pai o viu, seu coração se encheu de compaixão, ele correu em direção ao seu filho, o abraçou e o beijou. (Nessa encenação, o Flávio, que representava o pai, me deu um beijo no rosto, coisa que não fizera no ensaio. Esta cena arrancou muitas lágrimas da plateia).
A seguir, o filho mais velho participa da cena final, mantendo seu olhar de ódio e de reprovação ao ver que seu pai não brigou, não chamou à atenção e nem discursou sobre o pedido de perdão de seu irmão, mas agiu ordenando que fosse dado a ele uma nova roupa, um anel, uma sandália e uma festa.
A apresentação tem seu fim com um forte abraço entre o jovem filho e seu Pai que, olhando para o céu, exclama: “Era preciso festejar, pois este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado!”.
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