Nossa Senhora

Maria nos sermões de Santo Antônio

O santo uniu a erudição adquirida como clérigo em Portugal à espiritualidade missionária do franciscanismo e expressou um pensamento original sobre Maria

Escrito por Paulo Teixeira

10 JUN 2024 - 00H00 (Atualizada em 10 JUN 2024 - 05H27)

A obra Sermões Dominicais e Festivos de Santo Antônio não são propriamente homilias que ele realizou nas Missas e nem são suas anotações pessoais. São anotações tomadas com muita precisão pelos freis franciscanos que eram seus alunos. O objeto de tal ensinamento era preparar os freis para a ação evangelizadora para combater as heresias, o afastamento da fé e a corrupção. Os sermões não são aulas avulsas de Bíblia, mas são comentários à liturgia dominical, ou seja, compreende o ciclo litúrgico com as leituras bíblicas correspondentes. Ao todo são 77 sermões que compreendem os domingos e as festas. Santo Antônio proferiu um ciclo de quatro sermões sobre Maria, depois, Maria aparece nos sermões sobre a anunciação do anjo, sobre a purificação, e no referente ao terceiro domingo da quaresma. São assim, sete dedicados a Maria sendo um grupo de quatro e outros três de composição independente entre si.

Como já foi explicado, os sermões eram o conteúdo formativo de uma atividade missionária e não tinham o objetivo de constituir uma mariologia franciscana ou antoniana. Contudo, há uma reflexão articulada sobre a figura de Maria que é muito útil aos nossos tempos. Talvez Maria não deva ser abordada como um tema a parte em nossa vida de fé, mas dentro do contexto de reflexão litúrgica, por exemplo, a reflexão mariana e a celebração de suas festas devem ser naturais.

Santo Antonio utiliza algumas imagens para falar de Maria. Ele utiliza a linguagem alegórica que não é fantasiosa ou “cinematográfica”. A interpretação alegórica dos textos mostra como o autor vê uma realidade a partir do texto. Nesse sentido, Santo Antonio não fala sempre de Maria como Mãe de Deus porque entende este termo muito preciso, fala sempre de Virgem Maria ou bem aventurada. Mas, sobretudo, utiliza figuras bíblicas para falar de Maria. Sempre no sentido de Maria como habitação, casa, abrigo de Cristo, fala dela utilizando imagens do Antigo Testamento como: arca da aliança, tenda, esposa, lírio, sol, lua, videira.Leia MaisResponsório de Santo AntônioNovena a Santo Antônio de Pádua e de LisboaFrei Sebastião: Santo Antônio, o santo dos milagres!

Todas essas figuras falam de Maria para apontar a realidade da salvação trazida por Jesus. Tem destaque as figuras femininas da Bíblia. Marta e Maria dos Evangelhos, por exemplo, são imagens de Nossa Senhora que trabalhava, como Marta, para envolver em faixas Jesus recém nascido ao mesmo tempo em que, como Maria, contemplava e guardava todas as coisas no coração; Judite, do Antigo Testamento, para Santo Antônio é a mulher que foi capaz de reconhecer e agradecer a Deus como Maria fez com o seu Magnificat; Ester, que significa escondida, é como Maria que ao ser alcançada pelo anúncio do anjo permaneceu escondida apesar da extraordinária beleza de ser mãe de Jesus; Rebeca é a personagem que recebeu muito da mesma forma que Maria recebeu tudo que é Jesus; Sara que significa princesa alude a Maria que se tornou rainha ao receber o sorriso de Deus que lhe deu um filho. E são diversas outras comparações, tendo destaque àquela de contrapõe Eva e Maria pela palavra da saudação do anjo, ave.

Temos um grande Santo que nos deixou uma grande reflexão e mostrou que Maria é parte do mistério salvífico de Cristo e deve estar presente também em nossos discursos.

Referência: MELONE, Mary. Maria nei sermoni di S. Antonio di Padova. Teotokos, 2011.

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