Igreja

Face de São Nicolau é reconstruída cientificamente

Cícero Moraes, brasileiro e principal autor do novo estudo, disse que era um "rosto forte e gentil".

Escrito por MI

06 DEZ 2024 - 05H18 (Atualizada em 06 DEZ 2024 - 05H21)

O Martirológio Romano de 6 de dezembro registra: “(† s. IV) São Nicolau, bispo de Mira, na Lícia, na hodierna Turquia, ilustre pela sua santidade e pela sua intercessão ante o trono da divina graça”.

A “Legenda Áurea”, conjunto de narrativas sobre a vida de santos reunidas, por volta do ano de 1260, pelo então arcebispo de Gênova, Jacopo de Varazze (1229-1298), beato da Igreja Católica, tradutor, teólogo, cronista, escritor, bispo católico, traça um perfil do santo:

“Nicolau vem de níkos que significa ‘vitória’, e de laos, ‘povo’, isto é, Nicolau é ‘vitória do povo’, ou melhor, ‘vitória sobre os vícios que são populares e vis’ Ou simplesmente ‘vitória’, porque ele mostrou aos povos, com sua vida e seus ensinamentos, como vencer os vícios e os pecados. Nicolau também pode vir de níkos, ‘vitória’, e de laus, ‘elogio’, equivalendo então a ‘elogio vitorioso’ Ou ainda de nítor, ‘brancura’, e laos, ‘povo’, quer dizer ‘brancura do povo’. Com efeito, ele tinha em si estas duas coisas, brancura e pureza, pois segundo Ambrósio a palavra divina purifica, a boa confissão purifica, um bom pensamento purifica, uma boa ação purifica. Sua legenda foi escrita por uns doutores argólidas. Segundo Isidoro, argólida é um dos nomes dado aos gregos, pois Argos é uma cidade da Grécia. O patriarca Metódio escreveu tal legenda em grego, e o diácono João traduziu-a em latim acrescentando novos dados” (2003: 69).

O hagiólogo narra inúmeros milagres pela intercessão do santo, ainda em vida. Um destes milagres pode ter inspirado o ato simbólico da figura do Papai Noel descer pelas chaminés. Varraze narra o seguinte:

“Um de seus vizinhos, nobre porém indigente, viu-se forçado a prostituir suas três filhas virgens para poderem ter com o que sobreviver. Assim que o santo descobriu esse crime, ficou horrorizado, e uma noite, escondido, jogou pela janela do vizinho um saco cheio de moedas de ouro. Ao se levantar pela manhã, o homem encontrou o ouro, agradeceu a Deus e casou a filha mais velha. Algum tempo depois, o escravo de Deus repetiu a mesma ação. O vizinho ao encontrar ouro outra vez ficou admirado e resolveu estar atento para descobrir quem o ajudava. Poucos dias depois, Nicolau jogou na casa do vizinho um saco com o dobro das quantias anteriores. O barulho despertou o vizinho, que se levantou e foi atrás de Nicolau, gritando-lhe: ‘Pare, não fuja’. Correndo o mais depressa possível, reconheceu Nicolau e jogou-se imediatamente a seus pés, querendo beijá-los. Nicolau impediu-o e exigiu que não revelasse sua ação enquanto vivesse” (2003: 69/70).

São Nicolau de Mira ou São Nicolau de Bari, era grego, proveniente da Ásia Menor. Possuía ascendência grega e seria proveniente de Patara (atual Turquia), no Império Romano, onde teria nascido na segunda metade do século III, e teria falecido em dezembro do ano de 350 (6 de dezembro segundo o calendário hoje usado no Ocidente, 19 de dezembro no calendário do cristianismo oriental), em Mira, também na atual Turquia. Foi um bispo cristão que ficou conhecido por sua caridade e afinidade com as crianças e necessitados.

Quase 1.700 anos é possível vermos a face do Santo Nicolai, depois que cientistas reconstruíram sua imagem a partir de seu crânio.

Cícero Moraes, principal autor do novo estudo, disse que era um "rosto forte e gentil". Ele explica que era "curiosamente compatível" com o "rosto largo" descrito no poema de 1823, Uma visita de São Nicolau, amplamente conhecido como 'Twas The Night Before Christmas. "O crânio tem uma aparência muito robusta, gerando uma face forte, pois suas dimensões no eixo horizontal são maiores que a média. Isso resultou em um 'rosto largo' curiosamente compatível com o poema de 1823. Essa característica, combinada com uma barba espessa, lembra muito a figura que temos em mente quando pensamos no Papai Noel."

José Luís Lira, co-autor de Moraes e especialista na vida dos santos, descreveu o significado do verdadeiro Nicolau de Mira: "Ele foi um bispo que viveu nos primeiros séculos do cristianismo e teve a coragem de defender e viver os ensinamentos de Jesus Cristo, mesmo com o risco de sua vida. Ele desafiou as autoridades, incluindo o imperador romano, por essa escolha. Ele ajudou os necessitados com tanta frequência e eficácia que, quando as pessoas buscavam um símbolo de bondade para o Natal, a inspiração vinha dele. Sua memória é universal não apenas entre os cristãos, mas entre todos os povos".

Moraes explicou como o famoso santo se tornou a lenda popular de hoje. "Uma exceção notável foi na Holanda, onde a lenda de Sinterklaas - que é uma supressão linguística do nome do santo - permaneceu forte, influenciando até mesmo as colônias daquela nação. Uma dessas colônias foi a cidade de Nova Amsterdã, hoje Nova York, onde a lenda foi anglicizada no nome Papai Noel. Ele foi descrito como um homem velho que punia crianças malcomportadas e recompensava aquelas que se comportavam bem com presentes.A imagem do Papai Noel como a conhecemos hoje é baseada em uma ilustração de Thomas Nast para a revista Harper's Weekly no início de 1863. Isso, por sua vez, foi inspirado na descrição do poema de 1823 Uma visita de São Nicolau atribuído a Clement Clarke Moore."

Para criar o rosto, Moraes e sua equipe usaram dados coletados na década de 1950 por Luigi Martino, com permissão do Centro Studi Nicolaiani. “Inicialmente, reconstruímos o crânio em 3D usando esses dados. Em seguida, traçamos o perfil do rosto usando projeções estatísticas. Inicialmente enterrado em Myra, seus ossos foram posteriormente removidos para Bari, na Itália, onde permanecem até hoje”.

Inicialmente buscou-se reconstruir o crânio em 3D, tal processo foi efetuado utilizando os dados estruturais presentes no livro “Le Reliquie di S. Nicola”, de autoria do Dr. Muigi Martino e cuja autorização, Cícero Moraes solicitou via e-mail ao Pe. Gaetano Gerardo Cioffari, do Centro Studi Nicolaiani (http://www.centrostudinicolaiani.it/), que gentilmente o permitiu.

Moraes, Lira e seu coautor, Thiago Beaini, publicaram seu estudo na revista OrtogOnLineMag.

Iconografia

Modernamente se têm muitas imagens relacionadas ao santo. Por ser bispo, de uma época inicial da Igreja, muitos artistas o confundem com o bispo atual que tem entre seus paramentos além da batina e da túnica, o báculo e a mitra (tanto a ocidental quanto a oriental), mas, São Nicolau não as usou. Também a cor de seus paramentos não deve ter sido vermelha, pois, ele não sofreu a palma do martírio e a batina vermelha é usada por cardeais, a do bispo é violácea que se aproxima do roxo. Portanto, ele não usa esses indumentos. Mas, uma roupa comum aos santos da época, uma espécie de túnica inteira e o pálio arquiepiscopal. O pálio, do latim pallium, é feito em lã. Este indumento representa a ovelha que o pastor carrega nos ombros, assim como fez Cristo com a ovelha perdida e, ainda, unidade com o Pontífice, sucessor de Pedro, apóstolo.

Sobre este tema vale a pena conferir Pablo Martín Ávila: “En Occidente, su figura es la base de la tradición de Papá Noel. En el icono aparece con ropa monocal y la casulla episcopal” (ÁVILA, Pablo Martín. ICONOS. Madrid (ES): Editorial LIBSA, 2014, p. 178). (No Ocidente, sua figura é a base da tradição do Papai Noel. No ícone aparece com roupa monacal e a casula episcopal”.

Então, a iconografia mais adequada do santo é que ele use uma túnica ou roupa monacal, como ensina Ávila, de tonalidade escura, tendo a casula episcopal que inclui o atual pálio, presente na Igreja desde os primeiros tempos após a romanização do Cristianismo. Essa indumentária está, inclusive, no ícone contido no maná de São Nicolau de Bari que ainda hoje é distribuído, afirma José Luís Lira.

Padroeiro

O santo é padroeiro da Rússia, da Grécia, da Noruega, de Beit Jala, em Israel, e da cidade de Amsterdam, na Holanda. É o patrono, ainda, dos guardas-noturnos na Armênia e dos coroinhas na cidade de Bari, na Itália, onde estão sepultados seus restos. Universalmente, protetor das crianças. Foi, também, a inspiração ao Papai Noel.

Nome adotado por Papas

O primeiro Papa a adotar o nome Nicolau foi o Papa Nicolau II (1058-1061), pois seu nome de batismo era Geraldo de Borgonha. O Papa Nicolau I, 105º papa da história da Igreja Católica, se chamava Nicolas Collona, portanto, não houve mudança de nome, mas, ele foi considerado “grande” e santificado. Nicolau I faleceu a 13 de novembro de 867. O último Papa com o nome foi Papa Nicolau V (1447-1455).

A imagem do Santo

Publicada em 4 de dezembro último, em 24 horas, alcançou quase 30 idiomas e o resultado foi bem aceito pela comunidade científica e religiosa.

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