Por Túlia Savela Em A Igreja no Rádio Atualizada em 25 JAN 2019 - 14H06

O que foi escrito tantos anos atrás, pode valer “hoje”?

O que tem a ver tudo isto com a nossa fé e, acredito, também com a nossa alegria?



O segredo da pessoa feliz

O segredo da pessoa feliz

Muito anos atrás, num lugar, que pode ser o nosso também, vivia uma pessoa muito feliz. Certo dia alguém lhe perguntou: - Qual é o segredo de tanta felicidade? O homem respondeu cantando: - Quando estou de pé, quero estar de pé; quando ando, quero andar; quando escuto quero escutar, quando vejo, quero ver; quando bebo, quero beber; quando sonho, ah! mergulho no sonho. Ninguém entendeu nada. – Escute aqui – gritou outro – o que você está nos dizendo a gente também faz. Mas por que você é tão feliz? Ele cantou novamente: - Quando estou de pé, quero estar de pé; quando ando, quero andar...Então, desanimados, alguns o deixaram. Mas outros continuaram refletindo sobre o que tinham escutado. – Você diz que quando está de pé, quer estar de pé; quando anda, quer andar...o que há de especial nisso? Finalmente, a pessoa feliz deu-lhes uma explicação: - Quando vocês estão de pé, querem andar; quando andam, querem escutar; quando escutam, querem ver; quando veem, querem destruir; quando comem, querem beber; quando bebem, mergulham em sonhos; quando sonham, não sabem sonhar, porque têm medo de perder tempo; quando amam, cobiçam; e o que possuem, querem sempre aumentar.

Como tantas coisas, esta pequena estorinha pode ser entendida de muitas maneiras. Pode ser lida como um incentivo à desistência, a parar de sonhar ou, simplesmente, como um convite a permanecer firmes naquilo que estamos fazendo ou decidimos fazer. Contínuas mudanças de rumo e de intenções, com certeza, não ajudam a conseguir os objetivos que nos propomos. Talvez este seja mesmo o segredo da felicidade, ou, ao menos, de menos reclamações e depressões. Digo isso porque, no Evangelho de Lucas, que proclamamos neste terceiro Domingo do Tempo Comum, encontramos a palavra “hoje” que várias vezes se repetirá ao longo deste ano na leitura deste mesmo evangelho. O que foi escrito tantos anos atrás, pode valer ainda “hoje” para nós? O que tem a ver tudo isto com a nossa fé e, acredito, também com a nossa alegria?

O evangelista declara que fez estudos cuidadosos a fim de nos transmitir um ensinamento “sólido”. Esforço louvável. No entanto, a fé é, por definição, um arriscar. De outra forma seria uma demonstração e não mais uma fé. Também devemos usar a nossa inteligência para não acreditar em tudo e em qualquer coisa. Para isso precisamos de testemunhas confiáveis, de algo seguro, por onde começar a crer. Todos os dias, pela publicidade comercial e pelos discursos dos grandes e poderosos somos incentivados a acreditar em promessas: o tal produto ou a tal decisão resolverão grande parte dos nossos problemas. Produtos são reciclados e ideias requentadas, mas basta uma nova embalagem ou uma nova linguagem para nos atrair. Somos humanos e alimentamos sonhos e esperanças. A questão é que os trocamos com bastante frequência, sempre insatisfeitos e encantados pelas novidades. Como cristãos deveríamos “sonhar o sonho de Deus”, ou seja, abraçar e confiar no seu projeto de amor mais do que nos nossos anseios interesseiros e mutáveis. É por isso que a fé vai junta com a esperança. O “hoje” de Jesus não acabou naquele dia na sinagoga de Nazaré porque o nosso Deus nunca desiste e nem muda os seus projetos. Mas para tanto, precisa que também os pobres nunca desistam de anunciar aos seus irmãos a vida nova do Evangelho, que os oprimidos resgatados ajudem outros a se libertar e os cegos de antes reconheçam que já enxergam claramente o caminho da justiça e da paz. Nos dias de hoje, precisamos que os homens e as mulheres que dizem ter fé acreditem que ainda estamos no “ano da graça do Senhor”. Não será o lucro sem limites a salvar a humanidade, não será o esgotamento dos recursos do planeta a nos dar paz e alegria. Não serão as armas grandes e pequenas a decidir os destinos de países inteiros. Não serão as drogas velhas e novas a encantar as novas gerações. Ainda ecoam para nós as palavras do profeta Isaías e o “hoje” de Jesus. Sejamos firmes na fé para dar um sentido grande às nossas vidas e assim ser felizes.

Dom Pedro José Conti, bispo de Macapá, no Amapá


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